segunda-feira, 2 de março de 2009

Os Quadros Vivos

Aqui há uns anos atrás na Ilha Terceira, antes da época da televisão, havia grupos que iam de freguesia em freguesia com peças de teatro chamadas Comédias muito apreciadas pelo povo. O espectáculo começava com as “pancadas de Molière” antes de abrir o pano, seguido de um “drama para chorar”. Depois do intervalo era a vez da “comédia para rir”, outro intervalo e terminava o espectáculo com o “acto de variedades” consistindo em números musicais com coreografia e declamações de poesia. Era nesta parte que alguns grupos gostavam de incluir os chamados Quadros Vivos, cenas do quotidiano em que os actores permaneciam imóveis como se uma fotografia fosse tirada de uma qualquer cena da vida real. Uma cena muito usada e comovente era a despedida dos emigrantes no aeroporto em que os quadros representavam por sua vez, a chegada ao aeroporto, os abraços de despedida, a subida para o avião, os acenos, etc. Para que os actores pudessem mudar de posição entre os quadros a luz do palco e da plateia era apagada de modo a obter-se uma escuridão total durante breves segundos.

Num destes teatros estava presente a madrinha da minha prima que estava de visita à Terceira vinda dos Estados Unidos para onde tinha emigrado há muitos anos atrás. A tal senhora que sabia dos frequentes cortes de energia eléctrica que havia na Ilha andava sempre na companhia de uma forte lanterna (conhecida entre os terceirense como “foco” ou “focx”) que trouxera dos “States”. O que aconteceu é que quando a luz se apagou por completo para se dar início ao Quadros Vivos, a madrinha da minha prima que não estava habituada a esta modernice teatral pensou que era mais uma falta de luz e numa atitude de heroína levantou-se e dirigiu para o palco a potente lanterna mostrando assim um grupo de actores boquiabertos e encadeados a fazerem sinais para que alguém fizesse a senhora deixar o espectáculo continuar.


De: Júlio Silva - Futebol e Celebridades em 3D
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